Aparando arestas

sábado, 18 de setembro de 2010

Rebarbas do cotidiano

A chuva que cai ali fora;
A iluminação fraquíssima da rua;
O quadro dos Beatles do vizinho ali da frente;
O porteiro do prédio recolhendo as lixeiras vazias;
A noite cinza e preta de um céu sem estrelas nem lua;
O vento gelado que sopra do mar;
A brecha curvilínea da janela que proporciona essa vista.
Tudo isso agita acalmando.
Acalma o corpo e atiça o resto.
Todo o vasto e ininteligível aglomerado de
sonhos, pensamentos, desejos, ímpetos e sensações
que vulgarmente chamo de resto.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

roupas no cabide

Para impedir que as suas roupas caiam dos cabides,
duas dicas:
- enrole um elástico em cada extremidade do cabide;
ou
- cole um pedacinho de espuma nas pontas do cabide.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

zeus meu!

Não sou uma blogueira convicta, tampouco aspirante à escritora.
Eu sou daquelas que, de vez em quando, sentem uma
incontrolável necessidade de expurgar os pensamentos.
É como se eu cuspisse meu coração e minhas tripas em forma de palavra.
No caso, a palavra escrita porque dá pra conferir,
ver e rever, olhar novamente.
Sem crítica nem indulgência, apenas
mirar os caracteres para saciar uma curiosidade
que é muito parecida com aquela mania
que muita gente tem (e poucas admitem)
de observar as próprias fezes na latrina.
Por que? Pra que?
Dá pra saber se o lado de dentro do corpo
está em ordem a partir desses dados?
Nesse sentido, palavras e fezes têm características semelhantes:
podem deflagrar algum mal ou simplesmente afirmar
que não há qualquer anomalia desde que,
seja feita uma análise minuciosa do "material":
seja ele cuspido, cagado ou escrito.
Se estivesse num dia melhor, provavelmente
as metáforas seriam mais suaves, doces até.
Mas hoje não consigo fugir da escatologia
porque os pensamentos não são bons o bastante.

Semana passada comecei um tratamento para
um bruxismo que há anos me atormenta.
Comecei a usar um aparelho que
mais parece uma mordaça que me cala e machuca.
Todas as minhas ações agora se intercalam com o
lava-bota-tira-lava-bota-tira-lava desse aparelho e
sinto dores e uma grande quantidade de saliva na boca
e nem posso cuspir.
A dentista promete melhoras grandiosas.
A longo prazo, claro! Afinal, desgraça pouca é bobagem!

Foi também na última semana que
fiquei sabendo que meu cachorro de 11 anos
está muito doente e é provável que não sobreviva.
Amanhã de manhã fará um exame definitivo para
constatar o que todos já sabemos (e não queremos admitir):
Ele está morrendo.
É bem possível que tenhamos de fazer uma eutanásia.
Não gosto do termo sacrifício.
Ele é meu amigo afinal.
Não dá pra fazer distinção entre o amor canino e humano.
Pra mim amor é tudo igual:
quando tá tudo bem, ele arde e faz luzir;
quando tá ruim, ele machuca e anoitece.

Não dá pra parar de chorar,
tampouco posso tirar o aparelho.
Não dá pra chorar sem entupir o nariz.
Não dá pra respirar pela boca com o aparelho.
Não posso fazer nada pelo meu amigo e
isso é sofrimento.
O que fazer? Nada.
Resta a aceitação da vida tal como ela se impõe:
dura e doce feito um tablete de rapadura que
a gente vai roendo aos bocados até que um dia,
ela perece...

domingo, 6 de junho de 2010

Carol

Quisera ser a Carolina do Seu Jorge!

domingo, 18 de abril de 2010

teia

Tenho um vaso de pimentas vermelhas.
Elas me lembram uma boca,
que me lembra desejo
que me lembra um corpo
que me lembra volúpia
que me lembra vulcão
que me lembra calor
que me lembra verão
que me lembra rio de janeiro
que me lembra praia
que me lembra sol
que me lembra sal
que me lembra camarão
que me lembra pimentas vermelhas.

Pão de Batata da Dona Selma

A senhora minha mãe é uma mulher prendadíssima e
tem uma receita de pão de batata que é algo!!!

Anote aí:

1 Kg de batata descascada cozida com
1 colher de sopa de sal
40 gramas de fermento granulado ou
50 gramas de fermento em pasta
1 copo americano de açúcar
1 copo americano de óleo
4 ovos inteiros
1 kg de farinha de trigo

Coloque a farinha em uma tigela ou em uma superfície de mármore.
Faça um buraco no centro e vá despejando todos os outros ingredientes.
Sem medo nem frescura!
Misture tudo muito bem e depois castigue a massa.
Bata, bata, bata muito. Soque e sove até que a massa esteja lisa e uniforme.
Molde os pães como quiser: redondinhos, compridinhos, esculturas pós-contemporâneas... enfim, como achar melhor.
Vá colocando os pães em uma assadeira untada.
Asse até ficarem douradinhos.
Cuidado pra não queimar a bundinha deles!
Retire do forno e pincele com manteiga ou margarina!

Depois é só passar um café e convidar os amigos!

crime hediondo

(...)"Existem tantas esperanças no coração das mulheres que amam!
São necessárias muitas punhaladas para as matar;
elas amam e sangram até o fim".


Balzac em A mulher abandonada

One night stand

Há horas em que a gente só deseja a nossa cama.
Nosso quarto, objetos pessoais e
que falta faz uma escova de dentes...
Entretanto, dormir fora de casa tem suas vantagens.
Há sempre algo a ser descoberto entre as cobertas,
pequenas novidades tão banais na vida de qualquer um e
é nesse instante que a gente se dá de conta de
como as coisas que consumimos nos consomem
a partir do momento em que passam a ser algum tipo de referência pessoal.
O tamanho do seu refrescante bucal em cima da pia do banheiro,
quadros, fotos, estantes... segredos.
Milhões de segredos e a única certeza de que nunca irei descobri-los.
One night stand e nada mais.

Das fossas onde estive

Acabei de acordar e percebi que na desordem da casa, perdi os sapatos e os sentidos. Uma noite longa de sono entorpecido e acordo com frio.
Não tinha antes aqui um braço?
Não reconheço o espaço e de pronto não me lembro quem sou e o que estou fazendo aqui. Uma rápida mirada no espelho traz de volta a recordação que se fez esquecida. Olho, lembro e me lembro de porque o quis esquecer. Talvez esquecendo de mim mesma, possa deixar de lembrar de você. Estou auto-hipnotizada... O corpo entregue ao vazio, um cigarro queimando sozinho entre os dedos e de repente desvendo o mistério da mulher do quadro de Manet... A estufa é essa sala e sei o que ela não sente sentada absorta no não lugar dos seus pensamentos.
Nunca imaginei dizer isso, mas acho que quero minha vida de volta tal qual pensava existir há dez dias atrás. O que eu faço para tê-la de volta? Quero minha vida sem signos orientais, sem barbas e lábios. Quero minha vida só de presente, sem planos e estradas. Sentir saudade é matar e morrer um pouco.
Eu quero um copo d’água, uma lagoa de vodka e 2/3 de ar e se não for querer demais, alguma sensação de paz.

Instante só

Dance, dance, dance

segunda-feira, 1 de março de 2010

mentiras sinceras não me interessam

Só me responde uma coisa? O que eu devo fazer com as juras de amor que você vomitou em mim? Ein?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

enfrentamento

lay lady i wanna be...

queria escrever sobre o começo do ano:
sobre janeiro e as promessas,
queria dizer umas coisas sobre o tempo também.
acontece que não sei se por preguiça
ou puro sonho,
as palavras me escaparam e em seu lugar,
a voz de bob dylan
(ontem teria sido o marley)
me enternece ao som de lay lady lay.
coisa de férias de verão, pode ser.
muito sol e nostalgia.
muitas chuvas.
divinas gotas de bálsamo.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

saudades... tanto tempo que faz

há noites em que um vento zombeteiro entra soprando pelas janelas, agitando, varrendo e tumultuando tudo o que cruza seu caminho.
à madrugada ele invade meus sonhos,
desorganiza minha loucura e insandece meu caos.
quando isso acontece, eu durmo eu e acordo incógnita.
pela manhã, sigo ressabiada até o banheiro e
não reconheço o rosto inchado que me fita pelo espelho.

"bom dia!"
"bom dia pra você também" mas...
"essa é quem, que não conheço?!"

em dias assim, sinto uma coisa borbulhando cá dentro...
se fico em casa, não recebo visitas e não toca o telefone,
posso findar o dia sem pronunciar palavra:
o mundo acontece mentalmente.
meus olhos se viram pra dentro e subitamente vão surgindo músicas, antigos diálogos, risadas e recordações que me fazem lembrar quem fui.
sigo as pistas pra tentar descobrir quem sou...
e aí eu fico sentindo uma saudade imensa de tudo e todos.
falando desse jeito até parece sensação ruim mas, não é não.
em dias como esse, tenho a chance de me reencontrar com todas as estranhas que já me apareceram no espelho.
com elas eu volto aos lugares onde fui feliz, encontro pessoas e bichos que não verei mais - uns porque já morreram, outros porque desconfio - e todos os que ainda estão bem aqui, ao alcance do meu abraço.
quanta sorte tenho eu do vento não varrer minha memória
e que feliz invenção a fotografia.
a você, que lê agora esses traçados, fica um beijo da estranha de ontem!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

horrores noturnos

- sensações escabrosas começadas com a letra A -

1) apreensão
2) ansiedade
3) angústia
4) afobação
5) arrebatamento
6) asfixia
7) azia
8) antecipação
9) acidulação
10) ardor

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Buba


Buba usando um acessorio da Barbarela.

na relva da selva

Minha irmã e eu, no nosso tempo de infância, brincávamos no chão de barro e ralávamos a bunda e as costas escorregando nos barrancos do quintal. Nossos corpos cheiravam a seiva de árvore antiga, suor de criança e alfazema. Eu tinha medo do escuro e de saci pererê.
Na nossa casa não havia luz elétrica, nem bomba d'água e a televisão vermelha de bateria não pegava porque não havia antena no meio do mato.
Mamãe cozinhava o feijão num fogão a lenha e lavava as louças no poço. A gente não ajudava, mas fazia companhia e ela ria que ria de nossas macaquices.
Quando chovia, nadávamos em poças d'água e pisávamos descalças no chão inundado só pra sentir aquela lama vermelha transbordar por entre os dedos do pé.
À noite nós jogávamos dominó e ouvíamos histórias. Algumas vezes eles contavam, em outras, punham os vinis a tocar.
Nos dias quentes éramos mais felizes. Papai fazia churrasco e bebia cerveja de garrafa; mamãe ligava o rádio, abria uma coca-cola e fumava minister. No gramado recém plantado, nós quatro dançávamos e ríamos e nos refrescávamos com banhos de mangueira.
Nessa época, ninguém tinha telefone em casa. No centrinho da cidade havia um posto telefônico na padaria e era através dele que recebíamos notícias do mundo lá fora. Nosso carro era velho, enguiçava o tempo inteiro e descíamos para empurrar. A gente gostava de andar de onibus porque de alguma forma isso nos tornava importantes.
Nas manhãs de domingo, íamos à pracinha com nosso pai. Na única banca de jornal que havia, comprava seu jornal e nos deixava pegar um gibi – cada uma escolhia o seu. Às vezes voltávamos direto pra casa, loucas pra ler nossas revisitinhas, lado a lado, cada uma na sua cama. Em alguns dias, a mamãe também ia e então passávamos mais tempo e eles nos levavam ao parquinho.
Eu sou do tempo em que as pessoas deixavam as portas destrancadas, em que um corte de tecido era um bom presente, em que as meninas colecionavam papel de carta, que os documentos eram escritos à maquina de escrever, que fax era artigo ultra-moderno, que as mercearias tinham o caderninho de fiado e todo mundo pagava.
Clonagem e chamadas por video fone eram ficção científica e antena parabólica era o crème de la crème das transmissões televisionadas.
Engraçado como parece que falo de um tempo tão distante, quase ouço a minha avó contando as narrativas dela...
Um dia eu acordei e levei um susto: eu era adulta, morava em outro lugar e conversava com meu pai pelo messenger. Ele usando um blackberry...
é bom ver que as coisas mudam mas... às vezes sinto falta de ter medo do escuro, do camundá e do saci pererê porque hoje os monstros me parecem mais terríveis.

sábado, 5 de setembro de 2009

empreendimentos imaginários

casa da abóbora:



um café-restaurante que vende todos os tipos de alimentos feitos com abóbora. zilhões de possibilidades...


a cozinha do estabelecimento

terça-feira, 25 de agosto de 2009

sábado, 8 de agosto de 2009

la dolce vita

Por que sexta e não quinta?
Por que quinta e não quarta?
Há dia certo pra ser feliz?
As ressacas de domingo são mais custosas que as de terça?
Além do preço do ingresso,
há diferença entre ir ao cinema
às segundas e não aos sábados?!
Sempre há motivo pra rir e chorar,
todo dia é dia de trabalhar,
qualquer dia pode se tornar um dia de folga,
pra fazer festa não preciso de motivo,
cerveja gelada só troco por boldo,
solidão é um estado de espírito,
alegrias súbitas são as melhores,
dois é melhor que um e
três melhor que dois.
Perto e longe, junto ou separado,
depende do momento e varia de acordo com o fato.

A terra gira, o tempo passa e tudo se transforma.
Varia a inflação, os humores, as pessoas e os desejos.
Tudo muda, a moda vai e volta mas
há o que permaneça intangível, inalterado e imprescindível.

Para que a vida continue doce só espero
que não faltem sonhos, amigos, altas doses de otimismo
e biscoito de maizena com café.

a insônia de alice

Era madrugada de terça-feira e Alice acordou esquisitíssima.

Abriu os olhos às 2:45 da manhã e não conseguiu mais pegar no sono.
No escuro de seu quarto, as paredes emanavam calor e absolutamente tudo a incomodava.
O corpo formigava, os lençóis esquentavam demais, a sensação do corpo descoberto a pertubava, o barulho do ventilador era insurpotável e o silêncio completo, avassalador.
Levantou-se às 03:30h, tomou um banho, bebeu chá, trocou a roupa de cama, deitou-se novamente.Apagou a luz e fechou os olhos. Virou para o lado esquerdo, depois para o direito, ficou de bruços, de costas e mudou de lugar os travesseiros. Não conseguia dormir.
Acendeu a luz do abajour, abriu os olhos, pegou um livro, começou a ler e na quinta vez em que seus olhos percorreram o mesmo parágrafo, deu-se conta da falta de concentração.
Resignada, fechou o livro, desligou o abajour, virou de lado e cerrou os olhos. Fazia calor.
Tentou desvencilhar-se da incômoda sensação térmica imaginando uma imensa geleira. Não funcionou. Tornou a ligar o abajour, descobriu-se, levantou-se, ligou o ventilador, deitou-se na cama, cobriu-se com o edredom de malha vermelho, desligou o abajour e fechou os olhos.
Sentiu frio. Enfiou a cabeça sob a coberta para que sua própria respiração aquecesse o corpo e ainda o frio. Relutou por um tempo mas foi vencida pela sensação do corpo gelado.
Abriu os olhos, descobriu o corpo, ligou o abajour, levantou-se, desligou o ventilador, deitou-se de costas, cobriu-se, desligou o abajour, fechou os olhos e sentiu-se confortável.
Varreu da cabeça todos os pensamentos, sons e imagens. Sentiu-se relaxada finalmente. Quando estava quase conseguindo pegar no sono, ouviu o desagradável zunido de um mosquito. Fez um gesto com a mão e o espantou. Ele voltava, ela repetia o movimento e ele partia. Permaneceram no duelo por 20 minutos: o insistente mosquito a visitar-lhe as orelhas e ela a se estapear. Tão aturdida estava que, mais uma vez ligou o abajour, levantou-se, foi até o banheiro, abriu o armário mas não encontrou o inseticida. Voltou para o quarto, abriu o guarda-roupas, procurou a caixa de remédio e achou um repelente. Passou o produto pelo pescoço, rosto e reforçou a aplicação nas orelhas. Guardou o pote na caixa e a devolveu ao guarda-roupas. Fechou a porta do quarto, deitou-se na cama, cobriu-se com o edredom de malha vermelho, apagou o abajour, virou para o lado esquerdo, fechou os olhos e por um minuto esperou pela visita do mosquito. Não tornou a zunir. Acalmou-se. Pensou no mar, nas ondas, visualizou a cor verde, respirou azul, contou carneiros imaginários, mentalizou uma tela branca, depois uma preta. Mergulhou no mais profundo abismo que sua mente fora capaz de criar.
Adormeceu finalmente às 7:40h. O relógio a despertou às 08h.

Era manhã de quarta-feira e Alice acordou esquisitíssima.

domingo, 26 de julho de 2009

sábado, 25 de julho de 2009

Gatinhos do Ingá

A lista dos gatinhos do bairro
há tempos anda defasada.

O Robert de Niro da banca de jornal
na Presidente Pedreira,
simplesmente desapareceu.
Deve ter se mudado em
definitivo para Hollywood.

O recepcionista blasée do salão da
Visconde de Morais
não trabalha mais no estabelecimento.
O enigmático rapaz que tinha ares de ambição,
a essa hora deve gerenciar um desses "w" chicosos:
Werner's ou Walter's coiffeur.

E o garçom chuchu da pensãozinha?!
Aaaaaa. Uma pena!
Mas é difícil almoçar lá em vida pós-universitária.
Falta companhia, coragem e disposição para ingerir
o combinado de gordura e euforia "calourística".
Ainda o vejo de vez em quando.
Belo e esporádico passando pela rua
em sua bicicletinha amarela:
bermuda, havaianas e cabelos ao vento.

Restam os irmãos Jóia na Tiradentes.
Ao menos uma vez por semana,
pãezinhos, pó de café - ou qualquer outro
item essencial à minha despensa -
me servem de pretexto para ir no mercadinho.
No caminho, sigo torcendo para que 1 deles esteja lá.
Com sorte, encontro os 2
e me decepciono quando é o turno do pai.

A lista precisa se renovar.

Há cerca de dois meses, portando
comprovantes de residência,CPF e carteira de identidade,
entrei na locadora da Paulo Alves.
Fiz uma ficha e de lambuja obtive a
adesão de mais um membro ao clube.
A caminho do Sendas, faço questão de
passar naquela calçada na intenção de,
através da vidraça, conseguir fitá-lo.

Ontem o moço da locadora que,
há mais de 1 mês liderava o ranking,
perdeu o posto para o funcionário dos correios
no outro lado da rua.
Mudei de calçada a caminho do Sendas.

O ragazzo dos correios além de conquistar
o mais alto patamar da lista,
arrebatou meu coração.

Branco, magro, nem alto nem baixo.
Cabelo castanho, meio arrepiado,
um par de olhos irresistíveis e
uma boca incrivelmente cativante.
Na mão direita, dedo anelar, um anel suspeito.
É apenas um anel, tem que ser só isso.
Não tem jeito de noivo e estou certa de que
divide seu tempo entre o guichê nº 2 e
alguma outra atividade.
Por trás de carimbos e selos,
pitadas de humor e descontração
atípicas em pessoas que
desempenham esse tipo de trabalho.
Pode ser que seja músico, desenhista,
estudante de comunicação ou poeta.
Talvez não faça nada disso,
talvez seja apenas concursado e ponto.

Pena que hoje é sábado.
Estava disposta a passear pela Paulo Alves
e convidar o gatinho para carimbar
correspondências aqui em casa.

Pode ser que um dia eu tenha o devido atrevimento de
informa-lhe que ele foi o vencedor do
Ingá's Kitten Competition e que seu prêmio o aguarda
na segunda porta à direita
do apto 301 na Hernani Mello.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Dr. M., la la I love you

Não, eu não consigo desistir do amor romântico.
Não, eu não consigo.
Eu tento, tento, tento
tento novamente e quando começo a endurecer,
eis que surgem corações cor de rosa na calçada.
Amoleço, tropeço e caio de cabeça.

Costumava achar dentistas meio patéticos e
seus consultórios completamente repulsivos.
Entretanto, depois de um tratamento dentário
que está durando mais de 6 meses,
começo a entender porque algumas mulheres
traem os maridos com essas figuras.

Hoje eu dedico meu coração ao meu dentista.
Não é bonito, não tem aproach,
meio pançudo e coisa e tal.
Ai, não sei...
Alguma coisa nele mexe comigo.

Estou tratando o último dente inferior e
o acesso não é muito fácil.
A cadeira fica muito enclinada pra trás e
minha cabeça meio encostada em seu peito.
É tão perto que se não fosse o
maldito barulho daquele motorzinho,
poderia ouvir seu coração batendo.

Dia desses deitada lá ao som de
minnie riperton cantando loving you,
não resisti e me apaixonei.

Num dos raros momentos em que consigo abrir os olhos,
vi que seu rosto estava completamente respingado
de coisas saídas da minha boca.
De alguma forma, aquilo me comoveu e excitou.
Provavelmente porque eu mesma teria nojo daqueles
respingos - ainda que fossem meus.
Ele não. Ele não tem nojo, não tem medo e
não me deixa sentir medo.
Ao contrário, sua voz é suave e sedutora.
Não importando o que ele fala, suas palavras
saem mansas e doces em tom de incentivo:
"agora abre a boquinha pra mim, bem grande"
"segura aqui pra mim (o sugador)
iiiisssssoooo, assim tá ótimo!"
"tá doendo? então eu vou mais devagar"
"vai lá, cospe com vontade".

Como se não bastasse esse conteúdo erótico,
ainda tem os momentos em que cuidadosamente,
apóia uma das mãos no meu maxilar...
e eu fico ali...
deitada de boca aberta e olhos fechados;
minha cabeça em seu colo e
seus dedos vez ou outra a passear pelos meus lábios.
Sonho coisas que ele seria incapaz de imaginar e
vou ao delírio quando, ao fim da sessão,
ele limpa meu rosto com um lenço de papel.
Uma carícia sutil para finalizar o extenuante encontro.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

escolhas

Estou encurralada entre o muro de chapisco e o arame farpado;
Dividida entre a cruz e a espada.
Os campos estão floridos, é verdade. Mas andar descalça sobre coroas de cristo e roseirais é... complicado.
O que têm me oferecido varia entre a titica e a bosta, e acabo trocando 6 por 1/2 dúzia quase sempre...
Torço para que não tarde a chegar o dia em que as opções variem entre boas, muito boas ou maravilhosas.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

o lago


esse é um extinto lago na minha antiga casa. Foram-se os peixes, ficaram as lembranças...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

crise


Eu me chamo trinta e estou completamente falida.
Perdi o emprego, a vida social, o respeito da minha família e alguns quilos.
Meu guarda-roupa não me serve mais e o que serve está um lixo.
Perdi a dignidade e a noção de quanto tempo faz que aconteceu tudo isso.
O lado bom dessa crise é que eu também perdi o medo, as lágrimas e a vergonha na cara.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Pendências

Quero encontrar nos próximos dias:

1) o nome da música do comercial do rexona naturals,
2) uma receita de bolo de laranja que não sole;
3) solução para o meu bruxismo;
4) o endereço de um bom curandeiro;
5) um par de sapatos novos (em liquidação);
6) o telefone do Hugh Jackman;
7) uma mala sem dono repleta de dólares;
8) yoga grátis
9) meu anel de madeira que perdi
10)remédio pra nevralgia intelectual e disritimia espiritual.

love stinks

Hoje vi uma coisa que me fez pensar que
o amor alheio quando revelado publicamente,
os olhos recalcados, incomoda e
as narinas sensíveis simplesmente faz arder.
O amor alheio às vezes fede.
Admitir isso pra si mesmo é custoso,
admitir publicamente pode ser humilhante e depõe contra.
Trabalhar o ressentimento não é para todos,
superá-lo menos ainda.

love stinks

domingo, 5 de julho de 2009

le marriage

Era sábado à noite.
Não tinha muito o que fazer.
Chovia forte e estava sozinha em casa.
Fui ao supermercado comprar os ingredientes para o jantar.
Estava escolhendo batatas quando, sem mais nem porquê
fui atropelada por um carrinho desgovernado.
Indignada, olhei pra trás e me deparei com o condutor.
Seus grandes olhos castanhos e a barba por fazer roubaram-me o fôlego.
Antes que pudesse dizer alguma coisa,
ele sorriu, sacou uma couve-flor de dentro da bancada,
entregou-a a mim, ajoelhou-se aos meus pés e me pediu em casamento.
Naquela noite pus um prato a mais na mesa e
antes de embarcarmos em lua-de-mel,
nos refestalamos com um delicioso buquê gratinado.

shirley pantera


Shirley Pantera nasceu para brilhar!

primavera

por mim tanto faz se o mundo acabar
desde que seja primavera e
haja muitas flores.

e se ela me engolir?!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

é complexo...

português formal ou coloquial?!
o que significa exatamente falar bem?!
é falar alto, baixo, pouco, muito, rápido, devagar?!
com a voz impostada, sem tique-tique ou gagueira?!
com sotaque ou sem sotaque?!
evitar palavrões, gírias, gerúndios, jargões, frases de efeito e expressões idiomáticas?!
e se tirarmos tudo isso? o que resta?
procurar um fonoaudiólogo ou o pasquale neto?!

quando era pequena, lá em silva's garden,
tive uma professora que era incapaz de pronunciar o dígrafo "om".
pra ela só existia "ón"... assim bem seco, aberto e anasalado, sabe como?
"bombón", "marrón" e "batón".
em sala de aula, nossos trabalhinhos eram feitos em papel "celofâneo", "alumênium" e "crepón".
eu chegava em casa reproduzindo esses "óns" fanhosos, minha mãe quase morria do coração e me corrigia: "fala direito, menina!".
e então soletrava o que lhe parecia correto:
óum. óuuummmm: bom-bóum."

sempre lembro disso quando ouço alguém dizer que quer "soltar no próximo ponto" ou que vai "ao cabeleleiro".
e quando esquecem seu nome e tratam logo de lançar os vocativos carinhosos?
"oi, nem!", "tudo bom, coisinha?", "quanto tempo, amô!".

corrigir o outro é um tipo de audácia que não me permito.
primeiro, porque não sou mãe, e além do mais, uma correção pressupõe um conhecimento que me falta.
acho graça na diferença.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

atenção compulsória?!

correndo na praia domingo de manhã...
olhos e ouvidos cobertos por lentes e música.
tentava guiar a atenção para dentro mas,
os sentidos têm vontade própria e vez ou outra se rebelam.
foi-me impossível não notar o casal discutindo na calçada,
a piscina de bolinhas armada na areia e as crianças;
o homem do coco, os cocos e o facão;
a revoada de pombos, a pamonheira e um cheiro de maresia misturado com milho cozido;
o sinal fechado, a reunião dos pms à frente do carro,
a velhinha com olhar perdido (em algum lugar do passado?);
o labrador obeso, as amêndoas podres e um punhado de pipocas no chão...
andava rápido, o corpo cada vez mais quente.
instintivamente, comecei a costurar aquele amontoado de imagens desconexas:
uma profusão de travellings polissômicos.
queria olhar pra dentro mas meus sentidos me levavam para fora.
cansada de lutar, cedi.
e eu que sequer queria prestar atenção,
voltei para casa trazendo mais uma coleção de fotogramas
de um filme, cujo desfecho me é desconhecido,
mas que sei que a vida encarregar-se-á de montar.

guerra aos pulgões

de umas semanas pra cá, notei que as folhas do meu bougainville estão caindo.
achei que pudesse ser o pé de maracujá que está crescendo entre seus galhos mas, não era. olhei sob as folhas e lá estavam eles: os malditos pulgões.
fiquei com raiva. lembrei das aulas de biologia do colegial, da minha infância, do meu pai, do curso de agronomia que poderia ter feito. pensei nas lindas e raras joaninhas - predadoras naturais dessa praga- e de uma velha receita de caldo de fumo de rolo.
na falta de joaninhas autênticas, apostei no efeito espantalho: se funciona com milharais, por que não com bougaivilles e maracujás?


só pra garantir, também apelei pro fumo.
corri até uma loja de artigos religiosos e estremeci com o sorriso malicioso do zé pelintra prostrado na entrada. respirei fundo e passei por ele.
comprei o fumo, voltei pra casa e preparei a solução.
não há nada mais fedido que isso, mas não tem outro jeito. o negócio é de intoxicar.
não sei se o pulgão morre pelo cheiro ou por efizema...
caso alguém esteja passando pelo mesmo drama, aqui vai a receita.
você vai precisar de:
um recipiente com tampa;
um borrifador;
um pedaço de fumo (250g é mais que suficiente)
uma quantidade de álcool suficiente para cobrir o fumo.
deixe o fumo submerso no álcool por dois dias dentro do recipiente fechado.
quanto mais escuro o caldo, melhor.
coloque a solução dentro do borrifador e esguiche na planta. se puder, limpe as folhas atingidas com algodão embebido em álcool uma vez por semana.


espero que, depois de tanto empenho, ele fique tão bonito quanto o dessa foto aí em cima... ai, ai.

domingo, 24 de maio de 2009

meio metro de alma

havia momentos em que não sabia se estava dormindo ou acordado.
sonhava todas as noites, todos os dias.
de olhos abertos e fechados, a todo tempo.
as imagens eram tão vivas e as cores tão vibrantes
que às vezes se perdia entre os mundos:
"real, onírico ou fantasioso?!"
confudia- se sobre o desejo e o seu preço.
sobre o sonhado e o vivido, o preto e o branco.
quando da cabeça lhe surgia um pensamento, aparecia-lhe também uma questão:
"afinal do que se trata essa vida? há testemunhas? algum documento comprobatório do momento que passou?"
fazia esforço para lembrar mas... não conseguia.
ficava com a sensação de que a maior parte de sua vivência
se dava no pequeno espaço de sua cabeça.
ele, que se julgava grande na alma, indagava a si mesmo:
"como pode uma vida caber em cinquenta e poucos centímetros?"

quinta-feira, 21 de maio de 2009

sociedade falocêntrica?!


devaneio
jul/2006

tosco arremedo de miró


depois de visitar a mostra "Mirabolante Miró" no mac em abril de 2006.
uma singela homenagem

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Instante só





"O instante só tem um lugar estreito entre a esperança e o desgosto, e esse é o lugar da vida".
Marcel Jouhandeau

silêncio... alma do negócio?!

em bocas fechadas não entram moscas e...


delas não saem frases de amor.

domingo, 17 de maio de 2009

há flores em tudo que vejo e

não são de plástico, são de tecido