Aparando arestas

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

A serenata, de Adélia Prado

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no meio do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios, eles serão os mesmos...
_ só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei se não for santa?

terça-feira, 24 de outubro de 2006

À Adélia, minha mais singela babação

Adélia Prado é genial...
Mastiga palavras com vontade de bolo de fubá...
Assim simples, assim doce...
A mim seus poemas soam belos e naturais como
os fonemas de meu nome saído da boca daqueles que amo.
Adélia, minha flor de maracujá, eu também quero um amor feinho.

Amor feinho, de Adélia Prado

Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quanto haja.
Planta beijos de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero um amor feinho.