Aparando arestas

sábado, 19 de junho de 2004

Canção, de Cecília Meireles

“Nunca tivera eu querido
dizer palavra tão louca:
Bateu-me um vento na boca,
e depois no teu ouvido.

Levou somente a palavra,
deixou ficar o sentido.

O sentido está guardado
no rosto com que te miro,
neste perdido suspiro
que te segue alucinado,
no meu sorriso suspenso
como um beijo malogrado.

Nunca ninguém viu ninguém
que o amor pusesse tão triste,
essa tristeza não viste,
e eu sei que ela se vê bem...
só se aquele mesmo vento
fechou teus olhos também...”

sexta-feira, 18 de junho de 2004

impasses da natureza

Como és belo, meu querido bem-te-vi.
Tu és tão singelo e delicado que,
Temo que minha voz seja demasiadamente grave e
Possa ferir seus frágeis ouvidinhos...

Eu tão grande e forte,
Tão leoa, bruta que sou,
Mal consigo te tocar...

A mim restam os momentos de contemplação,
Nos quais me sinto embevecida por tua beleza e encanto.
És tão leve, tão singelo, inofensivo...

Nas manhãs de sol,
Enquanto relaxo o dorso sobre a ressecada relva da savana,
Torço para que pouses diante de mim.
Torço para que me baste teu canto,
Para que a beleza da tua voz encha de luz minha solitária vida de predadora.

Quisera ser como tu, tão livre, tão manso, tão tranqüilo...
Quisera poder voar alto e cortar o ar atravessando o tempo...
Pie alto, bem-te-vi, que a ti ninguém temerá.
Voe para longe e leve contigo esse amor descabido que o meu peito assola