Aparando arestas

terça-feira, 25 de agosto de 2009

sábado, 8 de agosto de 2009

la dolce vita

Por que sexta e não quinta?
Por que quinta e não quarta?
Há dia certo pra ser feliz?
As ressacas de domingo são mais custosas que as de terça?
Além do preço do ingresso,
há diferença entre ir ao cinema
às segundas e não aos sábados?!
Sempre há motivo pra rir e chorar,
todo dia é dia de trabalhar,
qualquer dia pode se tornar um dia de folga,
pra fazer festa não preciso de motivo,
cerveja gelada só troco por boldo,
solidão é um estado de espírito,
alegrias súbitas são as melhores,
dois é melhor que um e
três melhor que dois.
Perto e longe, junto ou separado,
depende do momento e varia de acordo com o fato.

A terra gira, o tempo passa e tudo se transforma.
Varia a inflação, os humores, as pessoas e os desejos.
Tudo muda, a moda vai e volta mas
há o que permaneça intangível, inalterado e imprescindível.

Para que a vida continue doce só espero
que não faltem sonhos, amigos, altas doses de otimismo
e biscoito de maizena com café.

a insônia de alice

Era madrugada de terça-feira e Alice acordou esquisitíssima.

Abriu os olhos às 2:45 da manhã e não conseguiu mais pegar no sono.
No escuro de seu quarto, as paredes emanavam calor e absolutamente tudo a incomodava.
O corpo formigava, os lençóis esquentavam demais, a sensação do corpo descoberto a pertubava, o barulho do ventilador era insurpotável e o silêncio completo, avassalador.
Levantou-se às 03:30h, tomou um banho, bebeu chá, trocou a roupa de cama, deitou-se novamente.Apagou a luz e fechou os olhos. Virou para o lado esquerdo, depois para o direito, ficou de bruços, de costas e mudou de lugar os travesseiros. Não conseguia dormir.
Acendeu a luz do abajour, abriu os olhos, pegou um livro, começou a ler e na quinta vez em que seus olhos percorreram o mesmo parágrafo, deu-se conta da falta de concentração.
Resignada, fechou o livro, desligou o abajour, virou de lado e cerrou os olhos. Fazia calor.
Tentou desvencilhar-se da incômoda sensação térmica imaginando uma imensa geleira. Não funcionou. Tornou a ligar o abajour, descobriu-se, levantou-se, ligou o ventilador, deitou-se na cama, cobriu-se com o edredom de malha vermelho, desligou o abajour e fechou os olhos.
Sentiu frio. Enfiou a cabeça sob a coberta para que sua própria respiração aquecesse o corpo e ainda o frio. Relutou por um tempo mas foi vencida pela sensação do corpo gelado.
Abriu os olhos, descobriu o corpo, ligou o abajour, levantou-se, desligou o ventilador, deitou-se de costas, cobriu-se, desligou o abajour, fechou os olhos e sentiu-se confortável.
Varreu da cabeça todos os pensamentos, sons e imagens. Sentiu-se relaxada finalmente. Quando estava quase conseguindo pegar no sono, ouviu o desagradável zunido de um mosquito. Fez um gesto com a mão e o espantou. Ele voltava, ela repetia o movimento e ele partia. Permaneceram no duelo por 20 minutos: o insistente mosquito a visitar-lhe as orelhas e ela a se estapear. Tão aturdida estava que, mais uma vez ligou o abajour, levantou-se, foi até o banheiro, abriu o armário mas não encontrou o inseticida. Voltou para o quarto, abriu o guarda-roupas, procurou a caixa de remédio e achou um repelente. Passou o produto pelo pescoço, rosto e reforçou a aplicação nas orelhas. Guardou o pote na caixa e a devolveu ao guarda-roupas. Fechou a porta do quarto, deitou-se na cama, cobriu-se com o edredom de malha vermelho, apagou o abajour, virou para o lado esquerdo, fechou os olhos e por um minuto esperou pela visita do mosquito. Não tornou a zunir. Acalmou-se. Pensou no mar, nas ondas, visualizou a cor verde, respirou azul, contou carneiros imaginários, mentalizou uma tela branca, depois uma preta. Mergulhou no mais profundo abismo que sua mente fora capaz de criar.
Adormeceu finalmente às 7:40h. O relógio a despertou às 08h.

Era manhã de quarta-feira e Alice acordou esquisitíssima.