Aparando arestas

sábado, 8 de agosto de 2009

a insônia de alice

Era madrugada de terça-feira e Alice acordou esquisitíssima.

Abriu os olhos às 2:45 da manhã e não conseguiu mais pegar no sono.
No escuro de seu quarto, as paredes emanavam calor e absolutamente tudo a incomodava.
O corpo formigava, os lençóis esquentavam demais, a sensação do corpo descoberto a pertubava, o barulho do ventilador era insurpotável e o silêncio completo, avassalador.
Levantou-se às 03:30h, tomou um banho, bebeu chá, trocou a roupa de cama, deitou-se novamente.Apagou a luz e fechou os olhos. Virou para o lado esquerdo, depois para o direito, ficou de bruços, de costas e mudou de lugar os travesseiros. Não conseguia dormir.
Acendeu a luz do abajour, abriu os olhos, pegou um livro, começou a ler e na quinta vez em que seus olhos percorreram o mesmo parágrafo, deu-se conta da falta de concentração.
Resignada, fechou o livro, desligou o abajour, virou de lado e cerrou os olhos. Fazia calor.
Tentou desvencilhar-se da incômoda sensação térmica imaginando uma imensa geleira. Não funcionou. Tornou a ligar o abajour, descobriu-se, levantou-se, ligou o ventilador, deitou-se na cama, cobriu-se com o edredom de malha vermelho, desligou o abajour e fechou os olhos.
Sentiu frio. Enfiou a cabeça sob a coberta para que sua própria respiração aquecesse o corpo e ainda o frio. Relutou por um tempo mas foi vencida pela sensação do corpo gelado.
Abriu os olhos, descobriu o corpo, ligou o abajour, levantou-se, desligou o ventilador, deitou-se de costas, cobriu-se, desligou o abajour, fechou os olhos e sentiu-se confortável.
Varreu da cabeça todos os pensamentos, sons e imagens. Sentiu-se relaxada finalmente. Quando estava quase conseguindo pegar no sono, ouviu o desagradável zunido de um mosquito. Fez um gesto com a mão e o espantou. Ele voltava, ela repetia o movimento e ele partia. Permaneceram no duelo por 20 minutos: o insistente mosquito a visitar-lhe as orelhas e ela a se estapear. Tão aturdida estava que, mais uma vez ligou o abajour, levantou-se, foi até o banheiro, abriu o armário mas não encontrou o inseticida. Voltou para o quarto, abriu o guarda-roupas, procurou a caixa de remédio e achou um repelente. Passou o produto pelo pescoço, rosto e reforçou a aplicação nas orelhas. Guardou o pote na caixa e a devolveu ao guarda-roupas. Fechou a porta do quarto, deitou-se na cama, cobriu-se com o edredom de malha vermelho, apagou o abajour, virou para o lado esquerdo, fechou os olhos e por um minuto esperou pela visita do mosquito. Não tornou a zunir. Acalmou-se. Pensou no mar, nas ondas, visualizou a cor verde, respirou azul, contou carneiros imaginários, mentalizou uma tela branca, depois uma preta. Mergulhou no mais profundo abismo que sua mente fora capaz de criar.
Adormeceu finalmente às 7:40h. O relógio a despertou às 08h.

Era manhã de quarta-feira e Alice acordou esquisitíssima.

Nenhum comentário: