Aparando arestas

domingo, 18 de abril de 2010

Das fossas onde estive

Acabei de acordar e percebi que na desordem da casa, perdi os sapatos e os sentidos. Uma noite longa de sono entorpecido e acordo com frio.
Não tinha antes aqui um braço?
Não reconheço o espaço e de pronto não me lembro quem sou e o que estou fazendo aqui. Uma rápida mirada no espelho traz de volta a recordação que se fez esquecida. Olho, lembro e me lembro de porque o quis esquecer. Talvez esquecendo de mim mesma, possa deixar de lembrar de você. Estou auto-hipnotizada... O corpo entregue ao vazio, um cigarro queimando sozinho entre os dedos e de repente desvendo o mistério da mulher do quadro de Manet... A estufa é essa sala e sei o que ela não sente sentada absorta no não lugar dos seus pensamentos.
Nunca imaginei dizer isso, mas acho que quero minha vida de volta tal qual pensava existir há dez dias atrás. O que eu faço para tê-la de volta? Quero minha vida sem signos orientais, sem barbas e lábios. Quero minha vida só de presente, sem planos e estradas. Sentir saudade é matar e morrer um pouco.
Eu quero um copo d’água, uma lagoa de vodka e 2/3 de ar e se não for querer demais, alguma sensação de paz.

Nenhum comentário: