Aparando arestas

sexta-feira, 17 de abril de 2009

singing in the rain

Dona Trinta é uma sujeita intempestiva.
Muda a lua, a maré, os humores e lá vai ela...
Cuidado!?
É que ela quebra, é que... bate e morde e enlouquece?!

Desculpe o devaneio, mas é que são tantas as maroquisses dessa aí, que até perco o fio da meada.

Dia desses estava andando na rua e foi surpreendida por uma tormenta tropical.
Parou por uns minutos sob a marquise de um prédio, esperou um pouco e resolveu seguir assim mesmo.
Estava sem sombrinha e a chuva era grossa.
Atravessou o quarteirão. Pensou em pegar um ônibus, parou no ponto e notou que já estava encharcada.
Decidiu voltar pra casa a pé e fez um trajeto diferente.
Cortou caminho por uma rua pela qual evita transitar.
Fagundes Varella é a rua do crime e Dona Trinta não é ré primária.
De volta à cena, ali naquela rua, estava prestes a dar seu quarto passo infalso e não fazia a menor idéia.
Já estava inteira molhada quando chegou no topo da ladeira.
A bolsa de algodão não deu conta de proteger os papéis que carregava, mesmo estando sob sua camiseta.
Apesar disso, ela caminhava rápido, animada com as recordações, com a paisagem e até com a chuva.
Imersa naquela cascata de água e pensamentos, quase não percebeu a moto que estacionou quase ao seu lado.
O motoboy parou para lhe oferecer uma carona?!
Num primeiro momento, teve um choque e pensou que “meu deus! realmente essa rua tem um quê de pecado”. “será que minha batata já assou?”
Lembrou-se de outro passo infalso. Uma antiga história sob duas rodas que inspirou o segundo momento.
Olhou pra cima e viu que apesar da chuva, havia um solzinho tímido querendo sair.
Logo depois, já estava na garupa do motoqueiro.
Na boca, um gosto de medo e aventura.
Na ponta da língua, as mentiras precisas que respondiam as suas milhões de perguntas.
Foi guiando o caminho e quando pararam no sinal da esquina de sua casa, desceu da moto tão rápido que nem deu tempo dele dizer que aquele era o lado errado.
Agradeceu e foi saindo.
Ele pediu um beijo.
Ela teria concedido, queria ter concedido, mas...
Não deu. Não era atraente. Não teve quelque chose.
Sorrindo, olhou pro motoboy sem nome e disse:
“desculpa mas, hoje não.”
O moço não ficou bravo. Ele riu.
Feliz da vida por “ter sido cúmplice dessa louca”.
O sinal abriu quando já estava quase no portão e apesar das buzinas, não olhou pra trás.
Entrou no prédio, entrou em casa, tomou um banho quente e foi almoçar com a irmã.

singing in the rain com dona trinta

Nenhum comentário: