Aparando arestas

quinta-feira, 26 de março de 2009

saudades sem fim

Ao meio dia de uma quarta-feira,
Dona Trinta decide que tornará a pôr os pés na estrada!


Embalada por devaneios e esperança,
caminhou sob o forte calor das três da tarde
- e que impecável que estava! -
levantou a perna direita e embarcou no ônibus.
Logo que a primeira paisagem em movimento
se apresentou na janela,
arregaçou as cortinas e observou...
O frio agradável do ar condicionado
transformava em carícia os escaldantes raios de sol.
Sentiu-o em seu braço esquerdo e pensou que:
se havia uma bela da tarde,
certamente se chamava Trinta.
Fechou os olhos e sorriu secretamente.
O destino que antes parecia tão urgente
já não lhe importava tanto.
Aproveitou cada um daqueles momentos de fantasia
e quando desembarcou na rodoviária,
voltou à realidade.

Ainda era tarde e ainda era bela mas...
A anunciação do crepúsculo começava a se impôr.

Respirou fundo e seguiu até o
ponto do segundo transporte
que agora era uma van.
Que contraste?!
Teve de começar de pé a
segunda etapa do caminho:
curvada sob o rebaixado
teto de uma van lotada.
O crepúsculo triunfando...
Achando graça, fazendo pouco
de sua degradada figura.
Que acinte!
Seguiu como pôde...
Ora esgueirava-se na porta e segurava no banco.
Ora quase caía.
Cabeça no queixo e ombros nas orelhas,
consolou-se com um pensamento sobre Kafka.

Vingou-se dele quando uma passageira desceu.
Sobre o assento ainda quente,
cruzou as pernas, recostou a cabeça e
riu-se do crepúsculo.
Novamente a paisagem em movimento.
Olhou pela janela e sentiu o vento no rosto.
Fechou os olhos e sorriu.
A noite caía e tudo ao seu redor
lhe pareceu mais claro.

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